Exposição “Retratos da Vida”, de Virginia Welch: depoimento da artista
A exposição “Retratos da Vida”, de Virginia Welch, acontece de 04 a 26/11/2016 no campus Taquaral da Unimep, Piracicaba, SP, Brasil.
A exposição “Retratos da Vida”, da artista Virginia Welch, acontece de 04 a 26 de novembro de 2016 no campus Taquaral da Universidade Metodista de Piracicaba – Unimep, em Piracicaba, SP, Brasil. Leia mais a respeito clicando aqui.
A pessoa, com aquela misteriosa integração de corpo e alma, é um tema recorrente, e até predileto na minha produção. Porém, nestes últimos anos, eu tenho me dedicado mais à interpretação intuitiva da natureza sem a presença da figura humana (o que resultou na mostra Into Nature, realizada em maio deste ano na Câmara de Vereadores de Piracicaba). Agora vislumbro uma possível integração destes dois temas. Assim, foi com o intuito de definir meus próximos passos no processo criativo que quis rever estes trabalhos relativamente antigos, alguns nunca expostos, no contexto desafiador desta nova exposição.
O rosto, o olhar, o corpo em si, o corpo no espaço, corpos interagindo e a relação física e psicológica entre eles, inspiram imagens que, ao decorrer da história da arte ocidental, e talvez mundial, são as que mais intimamente nos tocam. Nós nos identificamos sempre um pouco, às vezes muito mesmo, com imagens dos nossos semelhantes, e a multiplicação atual de retratos fotográficos na mídia e nas redes sociais não diminuiu, antes aumentou a fascinação que elas exercem sobre nós.
Um retrato fotográfico dá a ilusão da presença de uma pessoa e cumpre este papel às vezes de modo magistral; porém, a fotografia em si, que seja vista no papel ou eletronicamente, é mero veículo da ilusão. Agora, um desenho ou uma pintura é por si só, na sua materialidade plástica, um objeto tangível que pode falar às emoções, ao intelecto, à alma, mesmo sem representar algo reconhecível. Entretanto, uma obra de arte deve ser mais do que uma representação de algo fora dela, mas também mais do que a soma dos seus elementos plásticos. Deve haver vida; ela deve ser em si mesma uma “presença”. Obras modernas e contemporâneas de Júlio Pomar, Francis Bacon, R.J. Kitaj, Marlene Dumas e Peter Doig são exemplos de formas inovadoras de retratar pessoas que, todavia, demonstram frequentemente um domínio das artes do desenho e da pintura digno dos antigos mestres.
É o desenho que mais faz presente o rigor do pensamento, mas também torna visível a sensibilidade da percepção. Independentemente da sua eventual descrição do real, o desenho traduz ritmos, sugere movimento, delineia espaços. Nas pinturas, as pinceladas lineares, às vezes gestuais, tanto descrevem figuras quanto conduzem energia física e mental. São provavelmente as cores que mais transmitem emoção. Por sua vez, a forma, ou seja, as áreas de cor, opacas ou transparentes, moduladas ou chapadas, dão a noção de espaço, profundo ou superficial, vazio ou cheio, material ou mesmo espiritual. Nos desenhos, o mesmo vale para os espaços vazios. É na relação entre estes elementos todos que consiste a composição.
Esta seleção de retratos individuais e de grupos representa um longo percurso; são frutos de um diálogo sustentado entre a pintura/desenho e o ser ou seres humanos contemplados. Exponho estas obras agora em vista de outro diálogo que acontecerá para mim entre aquela vivência pessoal e artística de então e minha experimentação pictórica atual. Este diálogo levará sem dúvida a descobertas interiores e formais e a novos desdobramentos.
A minha proposta para o público com esta mostra é a de oferecer-lhe a oportunidade de vários diálogos: entre a obra e o observador, entre a pessoa retratada e a pessoa que olha, entre a imagem de seu semelhante e a consciência do seu próprio ser.