Pinceladas 4 – Pietá, de Michelangelo

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Pietà Vaticana, de Michelangelo Buonarotti

1499, 1,74m x 1,95m. Técnica: escultura em mármore. Basílica de São Pedro, Vaticano

Quando o artista recebeu a encomenda para que esculpisse uma estátua para a capela de Santa Petronilha, igreja do rei da França em Roma, Michelangelo não tinha feito ainda nenhuma das obras pelas quais se tornou conhecido através dos séculos. Foi sua primeira encomenda importante e sua primeira obra-prima.

O jovem Michelangelo já tinha impressionado alguns mecenas fazendo esculturas que se pareciam com as obras da Antiguidade greco-romana. Quando chegou a Roma, recebeu uma encomenda de um Baco, deus do vinho, encomendado pelo banqueiro Jacopo Galli. O resultado impressionou o cardeal Jean Bilhères de Lagraulas, que encomendou uma estátua para a capela da coroa francesa. Depois de ver o resultado, dizem que o cardeal gostou tanto que mudou de ideia e quis a estátua para o seu próprio túmulo.

O tema da Pietà não era nada comum na Itália. A Pietà representa Nossa Senhora com Jesus morto nos braços, logo depois de ter sido retirado da cruz, na Sexta-feira Santa. Mostra o sofrimento de Maria, num abraço entre mãe e filho. Essa representação surgiu na Alemanha, por volta de 1300, e tornou-se comum no norte da Europa. Aqui, você vê como a cena era representada: Cristo se apresentava rígido, talvez para representar a rigidez de um corpo morto.

Michelangelo muda a maneira tradicional e representa Cristo morto de uma maneira talvez mais convincente, um corpo morto relaxado pela morte por exaustão, depois de tantos sofrimentos. Totalmente “largado” no colo de sua mãe, que proporcionalmente é maior que o Filho. Aliás, o artista tinha a tendência de esculpir mulheres tão musculosas quanto seus homens; embora realmente Maria seja bastante corpulenta aqui, quando nos aproximamos de seu rosto vemos uma doçura e delicadeza poucas vezes igualada pelo próprio Michelangelo em outros trabalhos.

Uma das críticas que a escultura recebeu foi o fato de Maria ser representada tão jovem, já que na época da morte de Jesus ela teria por volta de 50 anos. O artista teria respondido que as mulheres castas, virgens, permanecem mais “frescas” que as outras. Como a Virgem Maria tinha sido a mulher mais casta de todas, então teria lógica representá-la muito jovem, como sinal de sua pureza.

Cristo também não apresenta os sinais da crucificação, machucados, sangramentos, coroa de espinhos – e sim, um corpo perfeito anatomicamente, somente com pequenos sinais das chagas nas mãos, nos pés e no lado do corpo. Segundo Michelangelo, ele não queria representar a morte, e sim, a serenidade da comunhão entre Deus e o Homem, através da santificação por meio de Cristo.

Outra inovação foi a forma de composição, em forma de triângulo, cujo vértice é a cabeça de Maria. O triângulo pode ser uma referência à Santíssima Trindade. A base simula a pedra do Calvário.

A obra é peculiar também pelo fato de ser a única obra de Michelangelo na qual aparece sua assinatura. Na faixa diagonal da roupa de Maria, está escrito: MICHAEL ANGELUS. BONAROTUS. FLORENT. FACIEBA(T), ou seja, “Miguel Angelo Buonarroti de Florença fez.” Ele declarou-se arrependido de ter assinado dessa forma, pois considerou isso uma explosão de orgulho, e nunca mais assinou obra alguma.

Nesta Pietà – que pode ser traduzida como piedade ou pena – é uma cena de sofrimento sereno, realista do ponto de vista da representação dos seres humanos, mas mostrando seres humanos divinizados – o Cristo, próprio Deus encarnado em Homem, e a Virgem Maria, sua Mãe – o que nos pensar na serenidade da fé firme de Maria que não se lamenta, mas contempla confiante na ressurreição do Filho divino. Aliás, antes de sua Páscoa, Cristo já se mostra glorioso, embora morto, um Deus mostrando sua perfeição através de sua forma humana perfeita.

É uma imagem que nos leva à meditação sobre a morte, e no nosso momento atual, a quantas mães que choram por seus filhos. Que a obra-prima de Michelangelo seja um consolo, seja pela beleza que irradia, seja pelo sentimento que desperta, seja, para aqueles que creem, pela sua mensagem de esperança.

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